domingo, 27 de abril de 2014

Os olhos rasos de água e solidão


estava nua, só um colar lhe dava 
horizontes de incêndio sobre o peito, 
a transmutar, num halo insatisfeito,
 a rosa de rubis em quente lava. 
 estava nua e branca num estreito 
lençol que o fim do sono desdobrava 
e a noite era mais livre e a lua escrava
 e o mais breve pretérito imperfeito. 
 só o tempo verbal lhe fugiria, 
no alongar dos gestos e requebros, 
junto do espelho quando as aves vão.
 toda a nudez, toda a melancolia, 
a dor do mundo, a deslembrança, a febre,
 os olhos rasos de água e solidão. 




 Vasco Graça Moura