quinta-feira, 14 de janeiro de 2016




Tal como qualquer cidade 
também nós escondemos 
turvos itinerários, edifícios arruinados, 
escuras vielas de rancor ou desejo,
 arrabaldes de medo ou parques para o amor, 
cantos em penumbra onde ocultar segredos, 
praças que nunca visitamos
 e aborrecidos museus onde expor lembranças 
que não interessam a ninguém. 
A nós 
também nos habitam cidadãos terríveis: 
funcionários do tédio, 
mensageiros de moto levando para muito longe
 o pequeno embrulho - primoroso e com laço- 
dos remorsos. 
Viajantes que passam por nós
 com as suas malas a caminho de outros corpos 
e sobretudo
 transeuntes alheios à nossa própria vontade,
 incivis e teimosos; 
têm nomes ridículos
 tal como os sentimentos amor, rancor ou medo
 e especulam- como vulgares comerciantes- 
com o preço
 por metro quadrado do nosso coração. 






 Silvia Ugidos
 (Trad por Joaquim Manuel Magalhães)