quinta-feira, 10 de março de 2016

Vem à Quinta-feira




É quase fim-de-semana e podemos, talvez, beber uma cerveja 
 ao cair da tarde, enquanto planeamos a viagem a Paris. 
E se Paris for muito caro - sei que isto não está fácil - podemos ir a Guimarães 
 assistir a um concerto, que ouvir é a maneira mais pura de calar. 
 Vem à Quinta-feira.
 A seguir, temos ainda a Sexta e talvez me esperes à porta do emprego, 
 e talvez fiques para Sábado e Domingo, e talvez o mundo pare
 de acabar tão depressa. 
 Vem à Quinta-feira. 
 Mas não venhas nesta, vem na próxima. 
 Nesta, tenho um compromisso que não posso adiar, é um compromisso
 profissional - sabes que isto não está fácil - e talvez nos dê hipótese de irmos
 a Paris ou a Guimarães. Vem na próxima, que eu preciso de tempo 
 para arranjar o cabelo, para arranjar o coração, 
 para elaborar a lista do que me falta fazer contigo. 
 Vem à Quinta-feira e não te demores.
 Enquanto te escrevo, já fui elaborando a lista
 (sabes como gosto de pensar em tudo
 ao mesmo tempo)
 e afinal o que me falta fazer contigo
 não é caro:
 - viajar de auto-caravana,
 - dançar pela Estrada Nacional,
 - ver-te chorar. 
 Choras tão pouco. Ainda bem que estás contente. 
 Vem à Quinta-feira. 
 Se não pudermos ir a Paris ou a Guimarães, não te preocupes. 
 Vem na mesma, que eu vou apanhando as canas-da-índia, as fiteiras, 
 eu vou recolhendo a palha e reunindo cordas e lona. 
 Já estive a aprender no Youtube como se faz uma cabana. 
 Vem na mesma, que eu vou procurando um lugar seguro.
 Vem na mesma porque a cabana, como a casa, só funciona com amor
 - ou, pelo menos, é o que diz o Youtube. 
 Temos ainda tanto para fazer. 
 Por isso, se algum dia voltares, meu amor, volta numa Quinta. 






 Filipa Leal
 (Foto de Ezgi Polat)