segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Devo ser




Deve ser o último tempo
A chuva definitiva sobre o último animal nos pastos
O cadáver onde a aranha decide o círculo.
Deve ser o último degrau na escada de Jacob
E último sonho nele
Deve ser-lhe a última dor no quadril.
Deve ser o mendigo à minha porta
E a casa posta à venda.
Devo ser o chão que me recebe
E a árvore que me planta.
Em silêncio e devagar no escuro
Deve ser a véspera.Devo ser o sal
Voltado para trás.
Ou a pergunta na hora de partir
.


Daniel Faria

1 comentário:

  1. Percorre o poema uma ténue luz de despedida que deixa no leitor um gosto amargo, como se a partida se tivesse antecipado no tempo.

    Um beijo

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