O que não teve gente neste universo tão pródigo? Era arrebatador. Eu via as casas, as ruas, os rostos, os animais que os homens acariciam, esse maravilhoso vagar da terra, e ficava estupefacto, fulminado. Gritava para mim próprio: é um milagre, o milagre! Tão estúpido, tão forte e cheio de poderes! Criava a linguagem; estava continuamente acordado; descobria, diante da matéria interrogada, figurações, modelos, réplicas. Enfim, uma pessoa insuportável....
Escrevi poemas sobre as vozes, as luzes, as metamorfoses, as imagens e equivalências do mundo. E fui por aí fora: filosofia, ciência, estética. Desejava conhecer tudo, abrir os enigmas. Às vezes deixava-me estar sob a chuva a senti-la correr pela cabeça e as mãos, encharcar-me o fato, entrar na carne. Murmurava: é a chuva. Ficava extasiado, louco de dedicação por esta terra feroz e sumptuosa que eu nunca entendia bem.
Depois tudo foi desaparecendo....
Herberto Helder
(Os Passos em Volta)
Independentemente do texto que muito gostei de ler, deixo
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Votos de um Natal muito Feliz
Se possível junto da família e de
Quem estiver em seu coração